Acabo de ler o texto do Pedro Gaião onde ele argumenta que a lenda de São Jorge prova a Sola Scriptura. Respondo de forma breve:
I- Um recurso comum a praticamente todos os argumentos do Gaião é buscar todos os tipos de declaração possíveis feitas por Católicos ou que podem se configurar uma tradição do povo católico para dar a impressão de que a tradição católica é confusa e possui pouca solidez. Contudo, esse expediente é estranho e exótico para qualquer católico praticante médio, acostumado muito bem a entender que existem graus de qualidade e autoridade dentro dessas declarações. Costumes populares, opiniões de teólogos, declarações de Papas e assim sucessivamente se misturam em meio ao grande depósito cultural de 2000 anos de tradição.
É preciso mesmo ser um grande gênio para entender a diferença que faz para o católico crer em uma das versões da história (ou estória) de São Jorge para crer na Divindade do Cristo, na presença real na Eucaristia ou assunção de Maria ?
Sobre o assunto é importante mencionar:
"Em 494 DC, o Papa Gelásio produziu o primeiro Índice ou lista de obras que foram consideradas apócrifas. O ‘Passio Giorgi’ está entre elas. Gelásio condenou certas vidas ou ‘Acta’ como sendo absurdas por causa de sua tendência crescente para a ficção e sensacionalismo. No entanto, ele concluiu, significativamente, que
Jorge deveria ser agrupado com santos 'cujos nomes são
justamente reverenciado entre os homens, mas cujas ações são
conhecido apenas por Deus' ".
II- O fato de ele propor a contradição entre o dragão na tradição católica e a tal "sola scriptura" mostra que ele não tem conhecimento algum das Sagradas Escrituras. Afinal, são abundantes as passagens bíblicas que mencionam expressamente a figura do dragão, usualmente interpretado de forma simbólica, além de menções a outros entes que a maioria das pessoas achariam tão estranhos quanto o próprio Dragão.
No livro do profeta Isaias, lemos: "Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar". (Isaías 27:1)
No livro de Neemias, lemos: "E de noite saí pela porta do vale, e para o lado da fonte do dragão, e para a porta do monturo, e contemplei os muros de Jerusalém, que estavam fendidos, e as suas portas, que tinham sido consumidas pelo fogo" (Neemias 2:13)
No novo testamento, temos também: "E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo" Apocalipse 12:17
III- A definição acerca de se o dragão efetivamente existiu não afeta em nada o fato de que pode-se ter também um significado simbólico atrelado a hagiografia do Santo. Não existe qualquer contradição entre um evento ter efetivamente acontecido e ter um significado simbólico superior. O cego, efetivamente curado por Jesus, não é também símbolo de nossa cegueira na fé? Da mesma forma pode (e deve) ser tomado a vida do Santo.
Pouco importa se o dragão é um animal que efetivamente existiu e foi extinto ou não. Não há evidências disponíveis para que nós possamos avaliar isso adequadamente e toda especulação será apenas uma especulação. Contudo, podemos compreender o dragão também dentro da luz pela qual o tomamos nas Sagradas Escrituras: uma batalha contra uma força espiritual oposta a Deus.
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