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É hora de se discutir o capitalismo das "big techs"

A doutrina social da Igreja Católica não estabelece claramente que tipo de modelo econômico ela prefere, mas claramente dita certos paradigmas que devem balizar nosso raciocínio econômico. Um deles certamente é que o sistema econômico "laissez-faire" é inaceitável e deve ser abalizado por princípios éticos. Perceber isso é crucial, mas parece escapar do horizonte de consciente do debatedor político médio.



Hoje, está escancarado para todos que as grandes corporações de tecnologia não são meros agentes neutros de um mercado buscando lucro. Pelo tamanho e proporção que assumiram, é preciso um verdadeiro milagre para que essas empresas tomem um prejuízo significativo. Isso as libera para agir em dimensões da vida societária que vão além do mercado, invadindo as esferas da política e da cultura com grande despeito a opinião popular. São geridas por pessoas desconhecidas, não eleitas, mas determinam mais os rumos da sociedade do que qualquer político ocidental.

Isso é algo que entrou no horizonte de consciência de qualquer pessoa medianamente bem informada sobre política.

Contudo, o que parece não entrar é a necessidade de serem tomadas medidas enérgicas para contensão do poder dessas empresas. Em fato, a estreiteza mental dos ideólogos de todos os lados não permite que o tema seja tratado da maneira que merece. Os direitistas compreendem que censura é ruim e as grandes empresas de tecnologia deveriam ser proibidas de discriminar com base em opinião política, mas acham que é "socialismo" qualquer proposta de interferência estatal para regular a atividade dessas empresas para um proceder mais saudável. Por outro lado, os esquerdistas se preocupam com a exploração dos trabalhadores e as práticas de mercado abusivas dessas empresas, mas não tem interesse nenhum em desmantelar o sistema de censura e controle dessas corporações, pelo contrário, querem tomar posse deles em seu benefício. No fim das contas, ambos os lados permitem e defendem o avanço do preocupante poder dessas corporações.

Não é pedir demais a imposição de um mínimo ético para esta nova modalidade de capitalismo que está emergindo, de forma a resguardar a dignidade humana, os direitos dos trabalhadores e as liberdades políticas.

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